segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando a Vida Imita a Arte

O amor acontece repentinamente e de forma inusitadas. Eduardo, 20 e poucos anos, advogado em início de carreira, entende a premissa de paixões avassaladoras; antes de usa vida mudar completamente, sua rotina era dividida em "dia e noite". Enquanto o céu está claro, Eduardo trabalha para firmar-se na carreira, provando ao pai - também advogado - que é um bom profissional. Quando a noite cai, e todos os gatos se tornam pardos, ele é apenas mais um dos rapazes, farreando com os amigos e sendo um típico mulherengo.

O dia-a-dia de Eduardo era apenas sequência de atos rotineiros, até Roberta aparecer na sua vida. Uma ruiva de visual exótico e agressivo, que proporcionou um misto de atração e confusão nele. Seu interesse pela ruivinha é tão forte que o faz cometer pequenas loucuras, como, por exemplo, tentar aprender em uma noite o que ocorreu na música em 10 anos.

"Quando a Vida Imita a Arte" contém apenas um lado da história: a versão de Eduardo, que desabafa, confidencia, admite erros e deixa transparecer que advogados também têm coração. Para saber o motivo de "Quando a Vida Imita a Arte" ser tão parcial em relação aos fatos, somente lendo para descobrir, para aprender e evitar os erros do nosso protagonista, pois, afinal, esta história também poderia ser sua...



Capítulo 1 do livro:

Esta é a complicada historia da minha vida. Está certo, estou sendo um pouco melodramático e exagerado, pois alem de se referir apenas a um período especifico, eu tenho apenas vinte e seis anos e ainda vou – espero – viver muitos anos.
Também não é o que se pode chamar de uma biografia, pois sempre estas obras referem-se a alguém que fez algo de importante ou, pelo menos, tem alguma coisa interessante para contar para os seus leitores e eu, definitivamente não me encaixo em nada disto.
Portanto, para ser sincero, eu não tenho a mínima idéia do que se trata este livro. Creio sim que é mais ou menos alguma coisa parecida com um desabafo, como passar para o papel o que eu estou sentindo para ver se esta sensação estranha sai de mim e me deixa em paz.
Não sei se algum dia alguém vai chegar a ler isto, como não sei se realmente eu quero que alguém leia isto, pois estou me expondo de uma maneira como eu nunca fiz e, como bom advogado, eu sei que tudo que eu disser poderá – e será – usado contra mim.
Mas realmente não tem importância, eu realmente não ligo. Porque eu preciso contar o que aconteceu para alguém e, como aprendemos na faculdade e na vida profissional, o papel aceita tudo. E não te critica!
Aceita q minha versão, que com certeza não se consiste na verdade absoluta. Em muitos pontos eu vou distorcer a verdade – mesmo que inconscientemente – ao meu favor, farei-me de vitima – quando na verdade eu estava sendo o algoz –, não darei oportunidade para a outra parte se defender. Afinal esta é a minha historia, contada por mim. Quem quiser outras versões indague, posteriormente, as pessoas que citarei aqui e, querendo conhecer o que realmente aconteceu, melhor perguntar para Deus, pois ele é o único que terá uma visão independente e precisa dos fatos.
Ainda, todos os diálogos serão relatados da maneira conforme me lembro, o que provavelmente não também coincidira com a verdade. Mas, se vocês esperam que eu me lembre exatamente de todos os fatos, desculpem-se, mas eu sou um ser humano, não um computador.
E para finalizar, é bom avisar a todos que eu tenho a mania de exagerar tudo. Literalmente fazer tempestade em copo d’água. Portanto, se eu contar que uma tragédia aconteceu, que tudo estava perdido, alguma coisa assim, não levem tão a serio assim – ou pode ser que seja verdade, dai depende dos parâmetros individuais de cada um.
Outro ponto importante é que eu vou contar esta historia sempre no passado, mas isto não significa que tudo que eu era e que eu tinha desapareceram. Ninguém morreu neste período, nenhuma mudança brusca de status social aconteceu. O mundo que me cercava continua praticamente o mesmo. Acho que o único que mudou fui eu mesmo. E vocês logo vão entender como e porque.
Isto aconteceu a mais ou menos um ano atrás. Para ser mais preciso a todos vocês, os fatos que relatarei abaixo – e que mudaram bruscamente minha vida – se iniciaram no mês de marco de 2003. Para facilitar a compreensão de todos, alem de me apresentar primeiro e explicar fatos sobre a minha vida que facilitarão a compreensão de todos, eu vou iniciar um pouco antes da historia propriamente dita, para introduzir personagens que serão essenciais no decorrer da mesma.
Chega de falatório barato, vamos a ação.
Meu nome é Eduardo e, conforme eu disse, eu sou um advogado. Sou ainda porque, uma vez que você seja admitido na Ordem dos Advogados do Brasil, você só deixa de ser um se você for expulso ou se você morrer. E nenhuma destas coisas aconteceu comigo.
Trabalhava no escritório de advocacia do meu pai ha aproximadamente três anos, desde que eu tinha me formado em direito numa universidade particular e não muito conhecida numa cidade vizinha. Ele tinha este escritório em nossa cidade ha muito tempo, provavelmente desde que eu nasci – não sou muito bom em datas, portanto não sei precisar, mas creio quer isto seja irrelevante.
Por isto mesmo, era um grande escritório. Não tanto pelo tamanho, mas sim pela sua reputação. Alguns clientes importantes, diversos casos de vulto, que nos proporcionavam um bom padrão de vida, bem acima da media da realidade brasileira. Isto significava uma boa casa, três carros na garagem, apartamento no litoral, viagens constantes e alguns outros luxos que o dinheiro pode comprar.
Antes de me formar, eu nunca tinha trabalhado antes. Apesar de estar estudando direito, eu raramente aparecia no escritório para fazer alguma coisa, o que causava um grande descontentamento no meu pai. Ele dizia que se eu quisesse ser um bom advogado, eu tinha que levar a vida a serio, parar de baladas e começar a me preparar para a carreira.
Nisto chega um ponto importante a ser contado. Talvez pelo padrão de vida confortável que eu tinha, talvez pelas companhias, talvez pela minha personalidade, o que eu gostava mesmo era de festa. Minha vida até o fim da faculdade se resumia a baladas, amigos e mulheres.
E nisto eu era muito bom. Conhecia todas as festas que aconteciam, seja na sua cidade ou na região, as que eram boas e as que não compensavam, nos bares e boates era conhecido de todos, desde os seguranças ate os garçons. Não desprezava nenhuma boa festa, mas o que mais gostava era das de universidade. Na minha cidade, apesar dela não ser até certo ponto pequena, havia uma grande e, nas cidades circunvizinhas, outras tantas, o que fazia com que semanalmente ao menos uma ocorresse.
Nestas era onde eu encontrava as universitárias que tanto adorava. Meninas vindas de outras cidades para cursar a faculdade, morando longe de casa, mais divertidas e animadas que as da sua cidade, muitas vezes dispostas a uma boa diversão sem qualquer compromisso.
Cabeça boa, nível cultural alto, muitas vezes com um bom padrão de vida e, é claro, bonita e com um corpo sedutor. Era este o meu tipo de mulher preferida, onde eu literalmente me sentia no paraíso e me esbaldava. Não tinha predileção por loiras, morenas, ruivas, mulatas ou qualquer outra, bastava um lindo sorriso e um belo par de pernas para despertar a minha atenção. Algumas palavras trocadas, olhares mútuo e pronto, a garota já estava no papo. Beijos e caricias trocado, telefone anotado e boa noite. Quem sabe eu ligasse para ela no outro fim de semana. Provavelmente não, mas, quem sabe?!
Minha maior vantagem era a lábia. Desde o colegial sabia que seria advogado – ou alguma coisa do gênero -, pois sempre tive uma conversa muito boa, convencia as pessoas de que meu ponto de vista era correto, seja pelos meus argumentos, quase sempre convincentes, seja pela minha persistência única. E era assim que funcionava com as garotas.
Desde adolescente sempre fui um paquerador nato. Sabia a hora certa de fazer charme e a hora certa de investir na conquista. Uma conversa agradável, aliada com minha – sem falsa modéstia – beleza, fazia com que obtivesse sucesso muitas vezes.
Porem, eu tinha um pequeno defeito, que algumas vezes me trazia grandes inconvenientes: eu era inconsistente demais e não conseguia ficar muito tempo com apenas uma menina. Parecia que me cansava, ficava entediado e logo partia para outra. Podia-se contar nos dedos de uma mão às vezes que fiquei alguma por mais de duas ou três semanas e apenas uma até hoje ele chamou de ‘namorada’.
Eu não sei explicar isto, é algo muito complicado. Parecia que apos algum tempo, eu perdia todo interesse naquela pessoa com quem estava saindo e, tudo aqui que me agradara nela no primeiro momento, não me agradava mais. E eu pulava do barco.
Voltando um pouco no passado, a única namorada que tive fora uma garota chamada Eliana, que conheci no inicio da faculdade. Ela era de uma cidade vizinha e entrou um semestre depois de mim no curso de direito. Conhecemo-nos numa festa, saímos uma vez e começamos a sair mais constantemente. Tornamo-nos namorados, daqueles que vão à casa um do outro para almoçar num domingo ou para o aniversario do irmãozinho mais novo do parceiro. Quem nos via junto dizia que realmente estavam apaixonados e era desta forma que eu pensava naquele momento, que isto duraria eternamente. Esta ‘eternidade’ durou exatos oito meses.
Um dia, não me perguntem o porque, do nada cheguei para ela e disse que era melhor terminarmos, pois éramos muito novos para um relacionamento serio, que eu queria curtir a universidade, toda aquela ladainha pré-fabricada de sempre. Ela aparentemente sofreu muito mas acabou aceitando.
Isto foi na ultima semana de aula. Passamos todas as ferias de fim de ano separado e, em fevereiro, no retorno das aulas, ela não apareceu na faculdade. Nem no primeiro dia, nem na primeira semana, nem nunca mais. Eu nunca mais a vi, apenas fiquei sabendo por uma amiga dela que ela tinha pedido transferência para uma faculdade mais perto de sua cidade. Mas não tive coragem de ligar para confirmar.
Nunca tive coragem de ligar, de procurar ela. Muitas e muitas vezes eu me peguei pensando o que teria acontecido com ela, como ela estaria atualmente, este tipo de coisa. É muito estranha a sensação de que uma pessoa que era muita próxima de você desaparece da sua vida por completo, sem deixar rastro, noticias, nada.
Não sei como seria a minha vida se eu não tivesse tomado esta atitude. Talvez estivéssemos casados, talvez brigaríamos por algum motivo posteriormente mas, no momento me pareceu a melhor decisão a ser tomada.
E, antes que vocês pensem besteira, eu acho que não me arrependi não. Eu aproveitei muito os anos seguintes, de uma maneira que eu jamais aproveitaria se tivesse uma namorada. Portanto, não me arrependo não. Mas estaria mentindo se dissesse que não tenho curiosidade de saber como a Eliana está hoje.
Pois bem, era uma segunda-feira cedo. Saindo do banho, fui terminar de cumprir o ritual de todos os dias. Fazer a barba que, apesar de bem rala, teimava em aparecer a cada amanhecer, pentear meu cabelo, curto e loiro, e passar gel para mantê-lo no lugar pois o mesmo era muito fino e nunca ficava no lugar que tinha que ficar, caindo sempre em sua testa, e passar um perfume.
Fui para o quarto, abriu o armário – como toda manha -, retirei uma calca preta, uma camisa clara e uma gravata. Sei disto porque noventa por cento das vezes vocês me encontrariam assim: a calca tinha que ser preta – não gostava de outras cores, nem mesmo azul marinho – e, por ser verão, eu quase sempre usava uma camisa clara, apesar de ter algumas mais escuras das quais eu também gostava, mas que eram desconfortáveis de se usar no calor. Quanto à gravata, querer saber qual era já é exigir demais de mim. Eu tinha tara por gravatas e assim tinha muitas em meu guarda-roupa, de todas as cores e desenhos. Troquei-me calmamente, como costumava fazer toda manha, descendo então as escadas até a cozinha, onde o café da manha estava sendo servido.
Eram quase oito horas e eu deveria já estar a caminho do trabalho mas isto não era problema. Alem de não demorar muito no café, como já disse, morava numa cidade pequena onde o trajeto de casa para o trabalho era sempre tranqüilo e não demorava mais do que cinco minutos.
Eu ia todos os dias de carro para o trabalho. Apesar de trabalhar no mesmo local do meu pai, precisava ter minha própria condução, pois os horários não batiam. Ele costumava ir mais cedo do que eu e, geralmente, sair mais tarde, alem do que, durante o dia precisava de um veiculo para se deslocar para diversos locais, tais como fóruns, cartórios e outros, que fazem parte da vida de um advogado.
Entrei na garagem, abri a porta do seu Golf preto, modelo do ano anterior, mas muito bem conservado e equipado, coloquei minha pasta no banco do passageiro e saiu.
Não liguei o radio porque não tinha este costume. Alem disto, eram apenas alguns minutos, não compensava o trabalho.
Nestes minutos, costumava pensar nos compromissos do dia. Lembro-me que tinha um cliente pela manha, com relação a uma separação. Eu não gostava muito de direito de família e nem costumava atuar muito nesta área, mas este era um conhecido do meu pai, que lhe pediu para cuidar do assunto. E parecia também que seria algo consensual, nada que lhe tomasse muito tempo. Ainda bem!
Depois do almoço, como de costume, iria ao fórum. Era eu que costumava fazer este serviço para o escritório. Protocolar, distribuir, consultar andamento de processo, pagar taxas e contas. Muito deste serviço poderia ser feito por um estagiário, mas não era um problema, gostava deste serviço, podia sair de sua sala, ver pessoas, conversar com outros advogados e cartorários, sair de sua rotina.
Este era a única coisa que eu costumava fazer quando eu ainda estudava. Chegava da faculdade na hora do almoço, comia e ia para o escritório. Lá não ficava mais de meia hora, apenas tempo suficiente para receber as instruções do que fazer, de como proceder, do que pagar. Então, ia fazer o serviço de rua: fórum todos os dias, e uma ou duas vezes por semana alguma outra coisa como um cartório, outro banco, mas nada que tomasse muito tempo.
Geralmente estava de volta em uma ou duas horas, deixava os documentos na mesa da secretaria com as anotações convenientes e ia pra casa, sem mais falar com ninguém. O serviço do dia estava cumprido.
Estacionei o carro próximo a casa onde funcionava o escritório, uma grande casa antiga que tinha sido completamente reformada e que então abrigava um moderno escritório de advocacia. Quatro advogados, incluindo eu, uma secretaria e uma estagiaria, alem de uma bonita sala de reuniões, que funcionava também de biblioteca e uma opulenta recepção.
- Bom dia Grace.
- Bom dia Dr. Eduardo. Como foi de fim de semana?
- Muito bem, e você?
- Bem também, obrigado.
Grace era a secretaria do escritório desde que começei a trabalhar lá, cerca de três anos atrás. Eu me lembro que havia uma outra antes dela, mas não lembro do nome, nem quando ela saiu de lá. Nunca me pergunte sobre nomes e datas, sou péssimo nisto. Ela era uma morena não muito bonita, mas muito simpática, que devia ter mais ou menos a minha idade, mas já era casada, apesar de ainda não ter filhos.
Ficava imaginando como alguém com a minha idade já poderia ser casada. Eu jamais conseguiria me imaginar casado, dividindo minha casa com outras pessoas, despesas, responsabilidades e – principalmente – a perda da liberdade.
Cumprimentei ainda o Dr. Antonio e a Dra. Alice, que trabalhavam ali há algum tempo. Ambos tinham mais de trinta anos, advogados experientes e capacitados, que me ajudaram muito no inicio da minha vida profissional e Ellen, a estagiaria.
Ellen era uma loira alta, linda e com um corpo maravilhoso que tinha 20 anos e estava no terceiro ano de faculdade. Eu sempre cobiçara aquela mulher, mas ela tinha um namorado serio, a cerca de dois anos; alem disto era excelente profissional, que meu pai não tinha interesse nenhum em perde-la. Por isto mesmo ele já me alertara para não tentar nada com a garota pois conhecia o filho que tinha e não desejava nenhuma cena de constrangimento no local de trabalho.
‘Quem sabe um dia’ eu pensava constantemente. Um dia algo iria acontecer e aquela loira seria minha. Nem que fosse por uma noite, como tantas outras, mas não teria problema. Ela seria minha.
Passou direto por sua sala e fui cumprimentar o pai, que já tinha saído de casa quando ele desceu para o café. Todos os dias, eu o via pela primeira vez já no escritório.
- Bom dia pai.
- Eduardo, sente ai, por favor, que eu preciso conversar com você. E feche a porta. – ele me disse, austero.
Eu conheço muito bem o pai e percebi na hora que alguma coisa estava errada, mas não podia imaginar o que acontecera.
- Você se olhou no espelho quando acordou esta manha? – continuou.
- Sim pai, porque?
- E não notou nada de errado na sua aparência não?
- Não, não notei nada não. O que aconteceu de errado? – eu realmente não sabia do que seu pai estava falando.
- E estas olheiras? Elas não costumavam existir. Tem certeza que não as tinha percebido ainda.
- Não. Olheiras? – era mentira. Claro que já as tinha percebido, e não fora naquele dia, alem sabia a sua origem. Já percebia que a conversa seria longa e difícil.
- Pois sim, olheiras. E eu sei de onde elas vem. São noites e noites mal dormidas, por causa de suas festas. Você não acha que já passou da idade para isto? Enquanto você era um estudante eu ate aceitava isto, apesar de achar que você deveria trabalhar durante este período, mas agora já é demais. Você se formou há muito tempo, é um advogado e não pode mais ficar com estas palhaçadas de noitadas e bebedeiras. Tem que dormir cedo, estudar mais, se empenhar mais no trabalho. Eu não vou estar aqui a vida inteira pra te sustentar e te levar nas minhas costas, você precisa criar vergonha na cara e se conscientizar que cresceu.
Eu já perdi as contas de quantas vezes tinha ouvido esta conversa. Na minha cabeça era um profissional serio e dedicado, que fazia muito bem o meu serviço, mas que tinha uma vida fora do tempo profissional. Gostava sim de festas e garotas, mas isto em nada atrapalhava o meu rendimento – eu acreditava -, eram duas coisas independentes em que uma não afetava a outra, mas sabia que não adiantava discutir com meu pai.
E alem disto, - continuou ele – um dia você que vai tomar conta disto, precisa chegar mais cedo que todo mundo e sair por ultimo também. Vamos parar com esta festa! A partir de hoje, quero ver você aqui as sete e meia, junto comigo e só indo embora quando todos já tiverem ido. Se isto não acontecer, pode ir dando adeus a certos privilégios.
Agora ele tinha pegado pesado. Apesar de tudo, ele nunca tinha se utilizado de uma ameaça concreta e isto significava que ele realmente estava muito brabo com a situação. Estava ferrado, sabia que tinha que mudar de atitude, se eu quisesse agradar ele, pois caso não fizesse, seria um inferno.
Afastei a cadeira e me levantou. Disse um ‘sim senhor’ bem baixinho e sai rapidamente da sala, com a cabeça baixa. Não poderia imaginar uma maneira melhor de começar uma semana; estava morrendo de sono e ainda tinha levado uma dura fenomenal, sendo inclusive ameaçado. Esta semana prometia ser uma das piores dos últimos tempos, tinha ate medo do que poderia acontecer no seu decorrer.
Pois é, se eu soubesse o que me águardava. Iniciava-se naquele momento um cataclismo que viria a mudar a minha vida para sempre. Obviamente que não fora esta dura que eu levei que foi a responsável por tudo que viria a transcorrer, mas resolvi transforma-la no marco zero, e vocês vão entender o porque.
Temeroso por causa disto, consultei minha agenda, para saber que bomba lhe esperava, o que mais poderia transformar esta semana num inferno na terra. Não que tivesse costume de escrever seus compromissos na agenda, pois eu e a agenda sempre formos inimigos mortais, não podíamos um ver o outro na frente e nos odiávamos mutuamente, mas este ano ele resolvera utiliza-la.
Não porque eu realmente queria, mas já tinha me ferrado muitas vezes por não anotar meus compromissos e estava cansado desta criatura das sombras, mais conhecida como agenda, olhar para mim e me dizer: - Se fodeu! Não te falei um milhão de vezes pra me usar, palhaço?
Já tinha entrado em marco e até agora estava conseguindo agendar meus compromissos. Apenas uma audiência trabalhista na quarta-feira, nada de muito complicado e um prazo para recurso quinta-feira. Fora isto as paginas estavam em branco. Não que isto significava que não haveriam compromissos, pois eu poderia ter pisado na bola e esquecido algo, mas provavelmente teria uma semana tranqüila, ao menos neste sentido.
Olhei os prazos que tinha para cumprir mas não vi nada de mais complicado e, alem de dois processos que precisava iniciar e que a muito estavam esperando no canto da mesa, não havia mais nada. Decidira que esta semana iria pelo menos terminar um, para mostrar trabalho.
Mas, eu estava com a sensação de que alguma coisa de errado ainda deveria acontecer. Eu não costumava desprezar estas sensações. E nem poderia, pois mal podia imaginar o que se seguiria, que a primeira peca do dominó tinha sido derrubada, e havia muitas outras para serem derrubadas antes do desenho se completar e a ultima peca cair. Meu telefone tocou. Ramal interno.
- Dr. Eduardo, o Sr. Amarildo está aqui. Posso mandá-lo entrar? – Perguntou Grace do outro lado da linha.
- Claro, pode pedir para ele vir até minha sala.
Era o cliente das nove horas. A semana estava realmente começando.

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