segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A primeira vez que fiquei emocionado numa sala de cinema, que senti um negocinho apertando meu coração, foi quando Cate Blanchett narrava a história da Terra Média e, numa tela negra, surgia o letreiro The Lord of the Rings. Mas, para entender este sentimento, é necessário voltar alguns anos no meu passado.

No final de 1992, fui apresentado por um amigo ao jogo RPG (Role Playing Game), no qual alguém criava uma história e outros personagens para jogá-lo. Tudo se passava numa mesa, com folhas, dados e, principalmente, muita imaginação. Este jogo, retratado num mundo de fantasias, com magia, cavaleiros, dragões e criaturas mitológicas, acendeu em mim uma paixão instantânea e, por muitos anos, fez parte do meu dia-a-dia.

Em busca de novas informações, como não podia deixar de ser, acabei encontrando o pai de tudo isto, um escritor inglês que, no início deste século, mais do que escrever um livro, criou um universo. Este escritor era J. R. R. Tolkien e sua obra, O Senhor dos Anéis, tornou-se o segundo livro mais conhecido da História, perdendo apenas para a Bíblia.

Passei anos atrás deste livro, chegando inclusive a comprar a versão original, mas o meu pouco domínio do inglês, somado ao texto clássico em que a obra foi escrita, fez com que a leitura não rendesse. Tive de esperar até que uma edição brasileira fosse lançada para “devorar” as mais de mil páginas que compreendiam os três volumes do maior épico literário de todos os tempos.

A leitura do livro nos leva a um universo completamente fantástico e diferente de tudo que conhecemos. Porém, descrever aqui tudo isto seria ser repetitivo, pois todos os meios de imprensa já detalharam minuciosamente os escritos de Tolkien. O que interessa no momento é que tudo isto seria muito difícil de ser transportado para as telas do cinema, porque os cenários minuciosamente descritos eram de uma riqueza de detalhes impar, além do que tudo era megalomaníaco, seja o tamanho das construções ou as dimensões das batalhas. Para se aproximar do livro, era necessário ter em mãos uma equipe especialista em computação gráfica, além de muita imaginação para tornar real aquilo que até então era apenas imaginário.

Talvez por isto ninguém tenha até então se aventurado a transportar para o cinema toda esta magia, pois, além das dificuldades, qualquer deslize significaria enfrentar os milhões de fãs que foram se acumulando por décadas. Mas Peter Jackson topou a iniciativa e resolveu transformar o maior épico literário no maior épico cinematográfico da história. E conseguiu!

Para eu poder dizer isto, precisei primeiro entender uma coisa: cinema e literatura são duas mídias bem diferentes e o que se encaixa em uma não fica bem na outra. Partindo deste princípio, começa-se a apreciar o filme com outros olhos, não com o de crítico ou de fã, mas sim apreciando a adaptação cinematográfica de uma grande história.

Quando se lê um livro, em sua cabeça você cria todo o cenário lá descrito, seus personagens, tudo. E eu obviamente tinha isto em mente após ler O Senhor dos Anéis. Quando o filme foi lançado no cinema, minha expectativa era descobrir quão próximo este chegaria daquilo que eu imaginei. Com certeza diferenças ocorreram, mas em muitos pontos, isto se deu positivamente.

A história é basicamente a mesma do livro, com algumas adaptações e supressões para dar mais dinâmica ao filme, mas mantendo a essência inicial, que é a luta do bem contra o mal. Portanto, o conselho que eu daria é ver o filme e ler o livro sem comparar um com o outro, e sim curtir ambos como diferentes um do outro.

As imagens da Nova Zelândia realmente remetem à Terra Média: altas montanhas, planícies, campos. Mas o que mais impressionou foram as Minas Tirith. A cidade inteiramente esculpida na montanha superou inclusive a minha imaginação e, por mais que o livro a descrevesse soberba, nada se compara ao que se vê no filme.

Mas atribuir o sucesso apenas a isso seria uma grande injustiça. A escolha dos atores, a maquiagem e figurino foram exatos, fazendo a diferença entre este e a maioria dos filmes que são visualmente bonitos, mas com personagens fracos. Viggo Mortensen não apenas representou o Aragorn e sim incorporou ele. Sir Ian McKellen foi um mago com uma realidade que o cinema nunca vira antes. E os hobbits? Bem, destes não há o que dizer, pois transmitiram tanto a inocência que é peculiar àquela raça, como o sofrimento e a dor que foram se incorporando aos personagens no decorrer do livro.

Já sobre o Gollum, este dispensa comentários. Foi a atração principal do filme, maravilhando tanto os fãs mais radicais quanto aqueles que nunca tinham ouvido falar na obra de Tolkien antes.

E para não dizer que eu não falei nada de O Retorno do Rei, o filme é tudo aquilo que eu esperava: cenas de batalhas para entrar na história do cinema, dilemas mortais a serem resolvidos pelos personagens e cenas carregadas de emoção. E, é claro, houve o corte da cena final da guerra do Condado, mas que eu tinha certeza que ocorreria e que não influenciou em nada o desenrolar do filme.

Você, que já leu o livro, deixe seus preconceitos em casa e vá ver o filme! E você, que nunca leu o livro, saindo da sessão, dê um jeito de arrumar um para ler, posso afirmar que não vai se arrepender.
Wilco: Kool Haus, Toronto, Canadá, 20 de junho de 2003

Por Hiran Eduardo Murboch

Antes de tudo, eu preciso admitir: não conheço muito do trabalho do Wilco, o pouco que conheço se restringe ao “Yankee Hotel Foxtrot” e algumas músicas baixadas aleatoriamente da Internet. Detalhe: como nunca anoto nomes de música quando gravo um CDr, eu realmente fico sem saber a que álbum pertencem, entretanto, isto não me impediu de curtir um dos shows mais emocionantes e agradáveis que tive oportunidade de acompanhar nesta cidade.

Em um local não muito grande, mas completamente lotado, exatamente às dez horas da noite, a banda entra no palco. Com Jeff Tweedy nos vocais/guitarra, John Stirratt no baixo, Leroy Bach nos teclados/guitarras/sintetizadores, Glen Kotche na bateria e percussão e mais um outro músico “backup” também nos sintetizadores, abriram com uma canção que reconheci ser do YHF mas que, infelizmente, não sei o nome – favor desculpar este ‘jornalista’ amador.

Apesar do início com uma forte tendência eletrônica e com muitas músicas de seu último álbum – o YHF acima citado – o que se viu foi uma seqüência de canções suaves e delicadas, que deliciaram o público presente e mostram que, ao vivo, o Wilco consegue o que parecia impossível, superar a qualidade de seus álbuns.

Todos os integrante da banda são grandes músicos, que utilizam de recursos eletrônicos como um complemento ao seu trabalho, diferente de muitas bandas atuais que se escondem atrás de computadores e sintetizadores para compensar a falta de competência. Muitas das músicas são praticamente acústicas, com o violão de Jeff Tweedy dando o tom. Mas faz-se necessário ressaltar o trabalho de Glen Kotche, pois muitos dos “sons” que eu imaginava serem sintetizadores são - na verdade - extraídos do seu ‘set’ de percussão.

Os maiores sucessos como Heavy Metal Drummer, Jesus, etc. e I Am Trying to Break Your Heart obviamente não foram deixados de lado. Mas, para deleite de todos, eles apresentaram uma música nova: Spider (mais de cinco minutos de duração, com diversas quebras, indo do suave ao pesado e voltando ao suave), que provavelmente entrará no próximo álbum. E, usando esta música como parâmetro, podemos esperar que mais uma ótima surpresa está por vir.

Após quase duas horas de show, com “dois bises”, todos deixaram o local satisfeitos por terem visto uma grande apresentação de uma ótima banda. Mas neste momento, me sinto no dever de dar um pequeno conselho: caso tenha a oportunidade de assistir a um show do Wilco na companhia de alguém – no sentido romântico da palavra – com certeza será muito mais proveitoso, pois Jeff Tweedy consegue compor algumas das baladas mais doces e deliciosas da atualidade.

29/07/2003
Foto> Hiran Eduardo Murbach


4 de julho de 2003.
Exhibition Place – Toronto – Canadá

Por Hiran Eduardo Murbach

O verão é o tempo dos festivais no hemisfério norte e, por conseqüência, no Canadá também. Em comemoração aos 100 anos do blues, foi realizado o primeiro “Toronto Star Bluesfest”. Foram cinco dias, três palcos simultâneos e mais de sessenta atrações, entre elas George Thorogood, George Clinton e Sheryl Crow, sem dúvida a principal atração de todas – e de maior apelo popular.

Eu já tinha assistido a apresentação dela no Rock in Rio III, mas naquela ocasião o show foi curto devido ao fato de ela não ser considerada “a atração principal da noite”. Porém, no Exbition Place, ela foi a artista de maior destaque na programação, podendo tocar todo o seu ‘set list’ sem grandes problemas com o tempo.

É bom salientar antes de iniciar o relato do show que esta não será uma resenha isenta e profissional. É bom relembrar que não sou um crítico musical, sou apenas um fã de boa música, e Sheryl Crow tem um papel fundamental em minha vida. Conheci-a na época do estouro do “Tuesday Night Music Club”, que não saiu do meu CD player por alguns meses (quem duvidar pode perguntar para a minha irmã, que não pode nem ouvir falar em Sheryl Crow por causa disto) e foi paixão a “primeira ouvida”. Tenho todos os CD's dela e ainda diversos bootlegs e singles; e não é exagero dizer que a considero minha cantora favorita. Mas não será por causa do meu lado fã que este texto será (tão) ruim, portanto não pare de ler...

Cerca de meia hora antes de iniciar o show, começou a chover forte e, por ser um local aberto, existiam grandes possibilidades de tudo dar errado. Porém, alguns minutos antes das nove, a chuva parou, o céu abriu um pouco, o suficiente para dar início a quase duas horas de música. O show foi dividido entre os cinco álbuns dela – quatro músicas do “Tuesday Night”, cinco do “Sheryl Crow”, três do “Globe Session”, três do “C’mon C’mon” - , e ainda uma música que ela gravou em dueto com Kid Rock – segundo ela, um erro que cometeu com um rapaz de Detroit, – com o baixista substituindo a voz dele e mais três canções novas. Isto foi uma ótima decisão pois, além de agradar a todos os fãs, dos mais novos aos mais antigos, pareceu também um reconhecimento que o seu último álbum foi o mais fraco de sua carreira.

Como a grande maioria do público estava presente apenas para vê-la – uma das vantagens de ser a ‘headliner’ – todas a músicas foram cantadas em uníssono, principalmente os sucessos “All I Wanna Do”, “If It Makes You Happy”, “My Favorite Mistake” e “Soak Up The Sun”.

No entanto, fora estas músicas, já previsíveis e que foram tocadas no Brasil – com exceção da última que ainda não havia sido lançada, – a escolha de algumas não tão famosas e mais calmas foram muito bem-vindas: “Strong Enough”, “Home” e, principalmente, “I Shall Believe” me emocionaram muito, fazendo-me voltar alguns bons anos no tempo, quando eu jamais imaginava que poderia vê-la e ouvi-la ao vivo.

Mas, mudando um pouco de assunto, ela é, sem dúvida alguma, uma das artistas mais engajadas, principalmente em relação a política bélica estadunidense. Assim, na volta do bis, fez um pequeno discurso contra a guerra. Nesse meio tempo, alguém da platéia jogou uma camiseta escrita “I don’t believe in your war, mr. Bush”. Para a surpresa de todos, ela cantou toda a música usando a camiseta, devolvendo-a ao dono no final.

Foi um grande show, que compensou qualquer frustração que o show no Rio possa ter gerado – set reduzido, distância do palco – e que confirmou , ao menos para mim, que ela é a melhor. E, para uma quarentona, ela ainda está numa forma física invejável.

SET LIST:

+STEVE MC QUEEN
+THERE GOES THE NEIGHBORHOOD
+MY FAVORITE MISTAKE
+YOU'RE ORIGINAL
+FIRST CUT
+LEAVING LAS VEGAS VEGAS
+STRONG ENOUGH
+REDEMPTION DAY
+IF IT MAKES YOU HAPPY
+CHANGE
+IT DON'T HURT
+HOME
+PICTURE
+ALL I WANNA DO
+SOAK UP THE SUN
+EVERYDAY WINDING ROAD
+LETS GET FREE
+AMERICAN GIRL
+I SHALL BELIEVE

07/08/2003
SARS-stock
30 de julho de 2003
Downsview Park – Toronto - Canadá

Por Hiran Eduardo Murbach

A expressão “fechar com chave de ouro” poucas vezes foi empregada com tanta propriedade como agora. Para completar o que alguns amigos disseram se tratar de uma ‘viagem para ver shows’, (é mentira, pois vim prá cá estudar inglês ) meu último show em Toronto foi o – informalmente - chamado de SARS-stock (um trocadilho entre SARS e Woodstock). Qualquer pessoa que tenha assistido ou lido algum jornal – mesmo no Brasil – no dia subsequente deste, ficou sabendo deste festival.

Foi a última e maior cartada de Toronto para limpar a imagem da cidade por causa do SARS. E foi uma iniciativa monstro, para repercurtir mundo afora: onze horas de musica, quinze atrações e 450.000 pessoas que pagaram o irrisório preço de CDN$ 21,50 – menos de R$ 50,00 reais.

As primeiras atrações tiveram 15 minutos de apresentação, o que significou apenas três canções. Neste esquema, tocaram Sam Roberts, Kathleen Edwards, La Chicane, The Tea Party, The Flaming Lips , Sass Jordan, The Isley Brothers, Blue Rodeo, Have Love Will Travel Revue – com os atores Jim Belushi e Dan Aykroyd - e Justin Timberlake. Porém, o forte calor e o som ruim impediram uma empolgação maior, que só veio a aparecer quando começaram a jogar garrafinhas de água no ex-N’Sync – eu já vi esta história antes e você?

O rock ‘n’ roll começou mesmo com a entrada dos veteranos – está certo, a partir de agora todos os que se apresentaram podem ser considerados veteranos – do The Guess Who. Mais famosos atualmente por causa da regravação de Lenny Kravitz para "American Woman". O pessoal do The Guess Who fizeram um show que agradou os mais velhos, mas que foi seriamente afetado por causa do som, que teimava em oscilar durante todo o tempo, problema que persistiu até o início do show dos Stones.

A atração seguinte foram os canadenses do Rush. Está certo que o som deles é um pouco antigo e que algumas vezes chega a ser cansativo mas, com apenas três musicos, eles conseguem fazer muita coisa que várias bandas atuais – que possuem o dobro de integrantes - nem imaginam em fazer; e o Neil Peart está em um outro nível comparado a os outros bateristas. Mas, infelizmente, a resposta da platéia não foi muito animada. E depois, 35 minutos para eles, considerando a duração de suas músicas, não é nada.

Quando o sol começou a dar sinal de que iria desaparecer, aliviando assim o calor, entra no palco a melhor atração da noite, aquela que fez realmente todos pularem e cantarem – e eu ainda não estou falando dos Stones. Os australianos do AC/DC, com um Angus Young vestido a caráter e um Brian Johnson visivelmente empolgado e emocionado, deram início a uma aula de uma hora e dez minutos de como se faz rock ‘n’ roll de verdade. Esta apresentação deles deveria ter sido gravada e todas as bandas que estão iniciando – e quem sabe algumas com anos de estrada – deveriam assistir para aprender como conquistar um público que não estava interessado em assisti-los.

Mas, além disto, temos que admitir que alguns hinos ajudam e isto o AC/DC tem, e muitos: "Back in Black", "Thunderstruck", "Hells Bells", "You Shook Me All Night Long", "Highway to Hell" entre outras. Além das músicas, que fizeram qualquer um balançar a cabeça e cantar junto, o ponto alto do show foi o famoso strip-tease de Angus, ao som de "The Jack". Com o seu jeitão todo desengonçado, ele foi tirando sua roupa de estudante aos poucos, ficando apenas de bermuda e após alguns minutos de enrolação, ele abaixou, mostrando - para delírio de todos - uma ceroula com a bandeira do Canadá

A grande maioria dos presentes estava lá para ver os Rolling Stones, mas estes senhores ingleses iriam precisar de muito esforço para conseguir superar a apresentação de seus coadjuvantes australianos. Depois de alguns minutos de atraso, eles entram no palco. Amparados por teclado, metais e vocais de apoio, eles começaram uma série de ‘greatest hits’ que, considerando a duração da apresentação e a carreira deles – respectivamente, uma hora e meia e 40 anos – iria deixar de fora muita coisa boa. Como de costume, iniciaram com "Start Me Up", emendando com "Brown Sugar".

Não há muito o que dizer deles. Impossível destacar apenas uma música, pois se você perguntar para todos os fãs dos Stones presentes qual é a música preferida, seria necessário um show de umas seis ou sete horas e ainda assim sairia gente reclamando que faltou alguma coisa. Mas certas canções agradaram mais como "Ruby Tuesday" (que fez surgir diversos isqueiros acessos) "You Can’t Always Get What You Want" e, obviamente, "Satisfaction".

Os duetos prometidos ocorreram, mas apenas com músicos que se apresentaram no dia, como Justin Timberlake – novamente vaiado e servindo de alvo de garrafadas – cantando "Miss You" com Mick Jagger e tendo a coragem de inserir durante a canção pedaços da sua "Cry Me a River" – heresia! – e os irmãos Young fazendo a cover da "Rock Me Baby" de B.B. King.

Houve ainda a oportunidade do highlander Keith Richards – em ótima forma física e tocando muito bem, diga-se de passagem – cantar "Nearness of You" e "Happy". Com ele, o carisma e o folêgo de Mick Jagger, a competência de Ron Wood, a sobriedade e a simplicidade-perfeição de um baterista de jazz como Charlie Watts, a impressão que se tem é que ainda há muita lenha para queimar na fogueira chamada Rolling Stones.

E o rock ‘n’ roll agradece. Definitivamente, mostra que, por mais que se diga que está morto, quando se faz necessário abalar estruturas e mobilizar multidões, ele é chamado e reaparece na forma de senhores sessentões .

SET LISTS:

The Guess Who:
- Hand Me Down World
- No Sugar Tonight / New Mother Nature
- Takin’ Care of Business
- American Woman
- No Time

Rush:
- Tom Sawyer
- Closer to the Heart
- Paint It Black (intrumental)
- The Spirit of Radio
- Limelight
- YYZ
- Freewill

AC/DC:
- Hell Ain’t a Bad Plate To Be
- Back in Black
- Dirty Deeds Done Dirt Cheap
- Thunderstruck
- If You Want Blood (You Got It)
- Hells Bells
- The Jack
- T.N.T.
- You Shook Me All Night Long
- Whole Lotta Rosie
- Let There Be Rock
BIS
- Highway to Hell

Rolling Stones:
- Start Me Up
- Brown Sugar
- You Got Me Rocking
- Tumblin’ Dice
- Don’t Stop
- Ruby Tuesday
- You Can’t Always Get What You Want
- It’s Only Rock ‘n’ Roll
- Miss You
- Nearness of You
- Happy
- Sympathy for the Devil
- Rock Me Baby
- Honky Tonk Women
- Satisfaction
BIS
- Jumpin’ Jack Flash

07/08/2003
Skid Row – Vince Neil – Poison
The Molson Amphitheatre – Toronto – Canadá
03 de junho

É hora de abrir o armário e procurar aquela caixa que está guardada há muito tempo. Abra-a e pegue aquela velha camiseta preta da sua banda favorita, aquela calça jeans apertada, que provavelmente não serve mais em você. Aquela jaqueta de couro que há muito você não via e - finalmente - mas não menos importante, aquela bandana que saiu de moda há muito tempo e era usada para segurar seus longos cabelos compridos – quando você ainda os tinha. Vista estas roupas, deixe a mostra aquela sua tatuagem já desbotada pelo tempo e seja bem-vindo de volta aos anos 80. Mais precisamente, quando o hard rock dominava todas as paradas e não existia esta coisa de rap, nem de new-metal, que esta garotada ouve hoje em dia.

Era exatamente este o clima numa fria noite de primavera no The Molson Amphitheatre, uma arena a céu aberto localizado no meio do maior parque de Toronto. O que mais se via eram pessoas por volta dos trinta ou quarenta anos, usando roupas que -com certeza- há muito tempo não eram vestidas e que definitivamente não fazem mais parte da moda da juventude atual. Mas, e quem disse que quem estava lá neste dia se importava com isto? O que todos queriam era ver ao vivo três ícones do hard rock (ou metal farofa como muita gente – preconceituosa – o chama): Skid Row, Vince Neil (ex-Motley Crue) e a atração principal da noite, Poison, em sua turnê “Harder, Louder and Fester”.

Quando menos da metade das cadeiras (isto mesmo, todos os locais eram sentados e numerados) estavam ocupadas, entra no palco o Skid Row. Ao som do hino norte-americano e, obviamente, sem seu membro mais famoso, o ex-vocalista Sebastian Bach, começaram um show que empolgou o público, principalmente durante as músicas mais antigas, como “18 and Life”, “Monkey Business” e “Wasted Time”, que não deixaram de ser apresentadas. Misturada a estas, algumas novas do seu novo albúm e uma cover totalmente improvavél – Psycho Terapy dos Ramones –, mostraram que o novo Skid Row ainda tem muita madeira pra queimar a serviço do rock. O único porém de toda esta história é que, justamente, na música mais esperada, a balada “I Remember You”, os agudos do vocalista Johnny Salinger não chegaram nem perto do seu antecessor (E não foi apenas eu que percebi isto). E no fim do show, uma enorme bandeira norte-americana surgiu no fundo do palco.

Totalmente desnecessário, tendo em vista que, assim como Buenos Aires não é a capital do Brasil, o Canadá não faz parte dos Estados Unidos. Mas parece que geografia não é o forte deles.
Cerca de vinte minutos após o término da primeira apresentação, surge no fundo do palco, uma outra bandeira com o nome da próxima atração: Vince Neil. Todos os presentes estavam lá não para conferir o seu trabalho solo e sim ouvir os antigos hits do Motley Crue. E, como ele é um cara legal, resolveu que não ia decepcionar ninguém. E a metralhadora de sucessos foi disparada, sem nenhuma piedade: “Shout Out the Devil”, “Too Young to Fall in Love”, “Girls Girls Girls”, “Same Ol’ Situation”, “Home Sweet Home”, “Wild Side”, “Looks that Kill” e “Dr. Feelgood”. Com músicas como estas, não teve como o público ficar sentado e apesar de não serem elas tocadas pelos integrantes originais, não perderam em nada a qualidade original, tendo em vista que esta nova banda é muito competente. Está certo, faltou o solo do Tommy Lee, mas ninguem é perfeito. Se você fechasse os olhos, teria certeza que estava num show do Motley Crue, pois a voz do bronzeado Vince Neil continua exatamente a mesma. E não há como negar que “Home Sweet Home” é uma das baladas mais bonitas da historia do rock. Por tudo que foi apresentado, foi o show da noite.

Finalmente, quando comecava a escurecer – já eram quase nove e meia mas, por algum motivo que nao sei explicar, é nesta hora que o sol se põe aqui – todas a luzes do palco se apagaram e, para uma galera que gritava insandecida, Rikki Rockett, Bobby Dall, C. C. DeVille e Bret Michael apareceram para dar a todos tudo aquilo, que muitos esperaram por anos. Hard rock e muitas baladas, especialidade do Poison – e todos temos que reconhecer que eles são muito bons nisto. O show, que foi uma mescla das músicas novas com as mais antigas, na medida exata para agradar a todos, apresentou efeitos pirotécnicos e de luz que um show do gênero merece; tudo isto auxiliado pela mais moderna tecnologia. E, é claro, em músicas como “Something to Believe In” e “Every Rose Has It’s Thorn” – que contou com a participação especial de um gigantesco globo de luz, que fez o local paracer uma enorme boate dos anos 80 –, fizeram surgir os clássicos isqueiros acessos, além de embalar beijos e mais beijos apaixonados, pois muitos dos presentes com certeza tinham estas músicas como ‘suas’. Além disto, músicas poderosas como “Talk Dirty to Me”, “Nothin’ But a Good Time” e “Unskinny Bop” e solos de C. C. DeVille – definitivamente em forma – e Rikki Rockett completaram o espetáculo com todos os clichês de um bom show de hard rock. Impecável.

Após toda esta maratona: três shows, mais de três horas de música, é hora de voltar para a casa, que o dia seguinte ainda seria uma quarta-feira, mas não sem antes guardar tudo novamente no mesmo local e esperar o próximo show pois como muitos dizem – e com razão – o rock ‘n’ roll nunca morre, apenas hiberna, para sair da toca no próximo verão; mesmo que este demore mais alguns anos para aparecer.

20/06/2003
Mars Volta, Queens of the Stone Age e Red Hot Chili Peppers
13 de maio de 2003
Air Canada Center – Toronto - Canada

Por Hiran Eduardo Murbach

Organização, nenhuma fila, nada de passar pelo constrangimento de uma ‘minuciosa’ revista; Mesmo antes de entrar no Air Canada Center, um moderno ginásio onde são disputadas partidas de basquete e hockey, já dava para perceber que seria uma grande noite. E, para completar tudo isto, exatamente as 7 horas, horário anunciado, as luzes se apagam e a primeira banda comeca a tocar. Chama-se Mars Volta e é capitaneada pelos ex-At the Drive-In Cedric Bixler e Omar Rodriguez. Com apenas cerca de vinte minutos de set e uma apresentação correta, conseguiram chamar a atenção dos presentes, que naquele momento ocupavam pouca mais de um quarto dos lugares disponíveis. O som apresenta elementos do finado ATDI, com pitadas de psicodelismo, mas as músicas poderiam ser um pouco mais curtas.

Algum tempo depois entram no palco os integrantes do Queens of the Stone Age, abrindo o show com Millionaire. A apresentacao, de quarenta minutos, privilegiou as (ótimas) músicas do último álbum, Song for the Deaf e teve como pontos altos uma ótima versão de The Lost Art of Keeping a Secret e o encerramento com No One Knows, música que, por tocar direto na MTV e na MuchMusic, foi a que mais agitou o publico que, visivelmente, desconhecia o resto do trabalho da banda. Faz-se necessário salientar ainda que atual baterista, Joey Castillo, não deixa nada a desejar com relação ao Dave Grohl. Ponto fraco? Apesar do tempo excasso, é uma heresia deixar de fora uma canção como Feel Good Hit of the Summer.

Após uma espera de mais meia hora, entra em cena a atração principal. Antony Kieds, Flea, John Frusciante e Chad Smith sabiam que o jogo já estava ganho mesmo antes de comecar e que tinham o publico nas mãos antes mesmo do primeiro acorde. E qual a melhor meneira de se comecar um show do Red Hot Chili Peppers? Todas as luzes apagadas e um holofote direcionado para um pequeno homem de cabelo azul, empunhando um baixo no canto do palco. No momento que comecam a soar as primeiras notas, é fácil entender porque ele é considerado por muitos, inclusive este que vos escreve, o melhor baixista do mundo. Dois minutos de solo, emendando com as primeiras notas de By the Way, e parece que uma corrente de alta voltagem foi ligada no ginásio, tamanha era a energia com que o platéia pulava e cantava. Emendaram com Scar Tissue e o primeiro de muitos momentos solos do show. John, apoiado apenas por Chad, cantou I’m Eighteen de Alice Cooper e I Feel Love, the Donna Summer, definitivamente dois covers que ninguem imaginava ouvir. A banda se completa novamente para apresentar os sucessos dos seus dois últimos multiplatinados albuns: Around the World, Universally Speaking, I Could Have Lied, Otherside, Don’t Forgive and Throw Away Your Television. Foi então que aconteceu a primeira surpresa da noite. A música seguinte com certeza causou muita estranheza ao novos fãs da banda, que eram grande maioria, mas alegraram seus saudosos fãs. Breaking the Girl com certeza não é uma das melhores músicas da banda mas, considerando que os Chili Pepper praticamente esqueceram suas origens, foi uma grande notícia. Após mais uma longa jam, uma constante durante o show, tocaram Warm Tape, o atual sucesso Can’t Stop, Californication e Give it Away, musicas que puseram fogo no píblico. Deu-se entao o já comum intervalo, para voltarem ao bis com Under the Bridge, iniciada com John sentado na beirada do palco, como se estivesse tocando noma roda de amigos. Cantada em uníssono, com certeza foi a música que mais agradou.
Vem então a segunda surpresa da noite. Dos primordios da banda, ressussitaram a They Are Red Hot. Confesso que por esta eu não esperava. Finalizam o show entao com Sir Psycho Sexy.

Falar sobre um show do RHCP é uma tarefa dificil. Para os novos fãs da banda, é um acontecimento maravilhoso, pois todos os sucessos estao ali, mas, para aqueles que conhecem todo o trabalho dela, fica difícil imaginar o motivo de pérolas como Knock me Down, Fight Like a Brave, entre outras ficarem de fora. É uma pena que, por algum motivo, eles simplesmente apagaram este período da historia da banda. Fica sim, a imagem de uma uma banda formada por três excelentes músicos e um vocalista apenas carismático, que tem dificuldade em decorar as letras das músicas (prova disto sao as ‘colas’ presas em seu P.A.). Foi um grande show, mas é óbvio que eles podem fazer melhor, muito melhor.

20/06/2003
Foto: Hiran Eduardo Murbach


Ian McCulloch
24 de Abril de 2003
Lee’s Palace – Toronto – Canada

Por Hiran Eduardo Murbach

Para o único show de lançamento do seu novo álbum solo em Toronto, foi escolhido um local pequeno e aconchegante, criando um clima mais intimista entre banda e publico. E foi exatamente isto que ocorreu nesta noite de sábado. Grande parte do publico que ocupava menos da metade do local era de pessoas acima de trinta anos, esperando para ver e ouvir o antigo vocalista do Echo & the Bunnymen, agora em carreira solo. Por isto mesmo, as mesas e cadeiras era mais disputadas que um lugar na pista, ocupada principalmente pelos mais jovens.

Exatamente as nove e meia da noite iniciou-se o show. Vestido como sempre, de blazer e óculos escuro, Ian McCulloch tocou praticamente musicas de sua carreira solo, decepcionando aqueles que esperavam ouvir os grandes sucessos de sua antiga banda. Entretanto, as suas musicas seguem o mesmo estilo das musicas dos Bunnymen, como obviamente não poderia deixar de ser, agradando com isto os presentes.

Aproximadamente na metade do show, para alegria de todos, os primeiros acordes de Lips Like Sugar soaram do seu violão e as primeiras estrofes chegaram a ser tocadas mas ela foi abruptamente cortada, sob o argumento de que a musica não estava legal e que ele não estava afim de tocá-la. Mas, para diminuir a frustração dos presentes, emendou Nothing Lasts, que foi cantada por todos.

Após uma pequena pausa, ele voltou com mais uma música solo e com a mais aguardada por todos: Killing Moon. Mas uma versão diferente, acústica, que mais uma vez foi paralizada após aproximadamente trinta segundos. Desta vez ele reclamou com uma que ficava gritando por ele na frente do palco. Coisa que se em lugares pequenos, mandou ela calar a boca, senão o show acabaria naquele momento. E voltou a música, só violão e voz na maior parte dela. Ao final, saiu do palco sem dizer uma palavra, para desta vez não mais voltar.

Foi um bom show, com cerca de uma hora e meia e uma banda de apoio muito boa, mas para todos que estavam, ficou uma ponta de frustração por não ouvirem mais musicas do Echo & the Bunnymen. É certo que a grande maioria sabia que ele não as tocariam mas sempre fica uma esperança.


20/06/2003