segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A primeira vez que fiquei emocionado numa sala de cinema, que senti um negocinho apertando meu coração, foi quando Cate Blanchett narrava a história da Terra Média e, numa tela negra, surgia o letreiro The Lord of the Rings. Mas, para entender este sentimento, é necessário voltar alguns anos no meu passado.

No final de 1992, fui apresentado por um amigo ao jogo RPG (Role Playing Game), no qual alguém criava uma história e outros personagens para jogá-lo. Tudo se passava numa mesa, com folhas, dados e, principalmente, muita imaginação. Este jogo, retratado num mundo de fantasias, com magia, cavaleiros, dragões e criaturas mitológicas, acendeu em mim uma paixão instantânea e, por muitos anos, fez parte do meu dia-a-dia.

Em busca de novas informações, como não podia deixar de ser, acabei encontrando o pai de tudo isto, um escritor inglês que, no início deste século, mais do que escrever um livro, criou um universo. Este escritor era J. R. R. Tolkien e sua obra, O Senhor dos Anéis, tornou-se o segundo livro mais conhecido da História, perdendo apenas para a Bíblia.

Passei anos atrás deste livro, chegando inclusive a comprar a versão original, mas o meu pouco domínio do inglês, somado ao texto clássico em que a obra foi escrita, fez com que a leitura não rendesse. Tive de esperar até que uma edição brasileira fosse lançada para “devorar” as mais de mil páginas que compreendiam os três volumes do maior épico literário de todos os tempos.

A leitura do livro nos leva a um universo completamente fantástico e diferente de tudo que conhecemos. Porém, descrever aqui tudo isto seria ser repetitivo, pois todos os meios de imprensa já detalharam minuciosamente os escritos de Tolkien. O que interessa no momento é que tudo isto seria muito difícil de ser transportado para as telas do cinema, porque os cenários minuciosamente descritos eram de uma riqueza de detalhes impar, além do que tudo era megalomaníaco, seja o tamanho das construções ou as dimensões das batalhas. Para se aproximar do livro, era necessário ter em mãos uma equipe especialista em computação gráfica, além de muita imaginação para tornar real aquilo que até então era apenas imaginário.

Talvez por isto ninguém tenha até então se aventurado a transportar para o cinema toda esta magia, pois, além das dificuldades, qualquer deslize significaria enfrentar os milhões de fãs que foram se acumulando por décadas. Mas Peter Jackson topou a iniciativa e resolveu transformar o maior épico literário no maior épico cinematográfico da história. E conseguiu!

Para eu poder dizer isto, precisei primeiro entender uma coisa: cinema e literatura são duas mídias bem diferentes e o que se encaixa em uma não fica bem na outra. Partindo deste princípio, começa-se a apreciar o filme com outros olhos, não com o de crítico ou de fã, mas sim apreciando a adaptação cinematográfica de uma grande história.

Quando se lê um livro, em sua cabeça você cria todo o cenário lá descrito, seus personagens, tudo. E eu obviamente tinha isto em mente após ler O Senhor dos Anéis. Quando o filme foi lançado no cinema, minha expectativa era descobrir quão próximo este chegaria daquilo que eu imaginei. Com certeza diferenças ocorreram, mas em muitos pontos, isto se deu positivamente.

A história é basicamente a mesma do livro, com algumas adaptações e supressões para dar mais dinâmica ao filme, mas mantendo a essência inicial, que é a luta do bem contra o mal. Portanto, o conselho que eu daria é ver o filme e ler o livro sem comparar um com o outro, e sim curtir ambos como diferentes um do outro.

As imagens da Nova Zelândia realmente remetem à Terra Média: altas montanhas, planícies, campos. Mas o que mais impressionou foram as Minas Tirith. A cidade inteiramente esculpida na montanha superou inclusive a minha imaginação e, por mais que o livro a descrevesse soberba, nada se compara ao que se vê no filme.

Mas atribuir o sucesso apenas a isso seria uma grande injustiça. A escolha dos atores, a maquiagem e figurino foram exatos, fazendo a diferença entre este e a maioria dos filmes que são visualmente bonitos, mas com personagens fracos. Viggo Mortensen não apenas representou o Aragorn e sim incorporou ele. Sir Ian McKellen foi um mago com uma realidade que o cinema nunca vira antes. E os hobbits? Bem, destes não há o que dizer, pois transmitiram tanto a inocência que é peculiar àquela raça, como o sofrimento e a dor que foram se incorporando aos personagens no decorrer do livro.

Já sobre o Gollum, este dispensa comentários. Foi a atração principal do filme, maravilhando tanto os fãs mais radicais quanto aqueles que nunca tinham ouvido falar na obra de Tolkien antes.

E para não dizer que eu não falei nada de O Retorno do Rei, o filme é tudo aquilo que eu esperava: cenas de batalhas para entrar na história do cinema, dilemas mortais a serem resolvidos pelos personagens e cenas carregadas de emoção. E, é claro, houve o corte da cena final da guerra do Condado, mas que eu tinha certeza que ocorreria e que não influenciou em nada o desenrolar do filme.

Você, que já leu o livro, deixe seus preconceitos em casa e vá ver o filme! E você, que nunca leu o livro, saindo da sessão, dê um jeito de arrumar um para ler, posso afirmar que não vai se arrepender.

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